Sim, reclamar é mesmo pior, segundo a neurociência

Reclamações constantes fazem com que, ao longo do tempo, se torne mais fácil ser negativo do que positivo, tornando-as um comportamento padrão

Algo ruim acontece com uma pessoa ou ao redor dela. Ela descarrega. Novamente algo ruim acontece com esta ou ao redor dela. Ela reclama. Outro coisa ruim acontece; ela descarrega com alguém e, mais tarde, quando encontra um novo público, reclama.

Logo ela se torna realmente bom em reclamar, porque embora a prática possa não levar à perfeição, ela produz mielina, uma substância neural microscópica que acrescenta velocidade e precisão consideráveis aos pensamentos e movimentos. A mielina é como um músculo, mas, ao invés de fortalecer o corpo, fortalece as vias neurais relacionadas a uma habilidade específica.

As vias neurais, no entanto, não estão equipadas para fazer julgamentos de valor. Se algo positivo é feito repetidamente, habilidades e hábitos úteis são desenvolvidos. Já se algo negativo é feito repetidamente, habilidades e hábitos destrutivos são adquiridos. De qualquer forma, uma alteração no cérebro aconteceu.

As redes neurais são construídas em sinapses, pequenas lacunas nas extremidades dos neurônios que permitem que sinais elétricos ou químicos passem de um neurônio para outro. É assim que as células nervosas se conectam. Cada vez que uma carga é acionada, as sinapses se aproximam microscopicamente para diminuir a distância e, portanto, o tempo de atraso.

Essa adaptação ajuda a construir padrões de pensamento e comportamento. O resultado é um ciclo virtuoso, caso alguém esteja tentando aprender uma nova habilidade útil, e um ciclo vicioso se esta mesma pessoa fizer algo menos positivo de forma regular, como, por exemplo, reclamar.

Na prática, reclamações constantes fazem com que, ao longo do tempo, se torne mais fácil ser negativo do que positivo, tornando-as um comportamento padrão, o que nunca é bom.

De acordo com a ciência, descarregar emoções negativas ou reclamar de um problema piora uma situação ruim. Um estudo publicado no European Journal of Work and Organizational Psychology revelou que quanto mais os participantes falavam sobre seus problemas, pior sentiam que o seu dia tinha sido – e mais tempo duravam esses sentimentos negativos.

“[Os participantes] não apenas relataram menor humor momentâneo e menos satisfação e orgulho com o trabalho que estavam fazendo no mesmo dia… mas também tenderam a sentir menor humor na manhã seguinte… e menor orgulho nas realizações do dia seguinte”, escreveram os pesquisadores.

Além disso, os sentimentos negativos, quando externados, não afetam apenas as pessoas que os experimentam, mas também aqueles ao redor delas. Uma pesquisa de Stanford mostra que a exposição à negatividade remove os neurônios do hipocampo, a parte do cérebro usada para resolução de problemas e função cognitiva. Assim, se alguém convive diariamente com uma ou duas dessas pessoas tendem a reclamar muito, seu comportamento pode ser afetado.

Qual é a saída, então? Primeiro, é importante que as pessoas reconheçam que a forma com que respondem a qualquer coisa não é predeterminada, e sim uma escolha. Com isso em mente, da próxima vez em que algo der errado, o recomendado é que elas não percam tempo reclamando, e sim se esforcem para melhorar a situação.

Elas devem falar, ou até mesmo pensar, sobre aquilo que podem mudar, ou o que farão da próxima vez em que as coisas não saírem como deveriam. Com o tempo, este tipo de reposta fará com que caminhos neurais que tornarão esta reação mais fácil de acontecer sejam construídos.


Kleber Nunes
Coach, Analista Comportamental, Especialista em Psicologia Positiva, Neuroeducador e Docente.
Formado em gestão de pessoas com MBA Gestão de Pessoas e Comportamento Humano; Pós em Formação Docente para o Ensino Superior; Pós em Neuroeducação; MBA Educação Cognitiva; Pós em Filosofia; Especialização em Educação Emocional Positiva; Especialização em Psicologia Positiva; Especialização em Psicologia Analítica; Especialização em Psicologia analítica: Abordagens infantis e Psicoterapia. Facilitar do jogo de herói.